Encerrados a janela partidária e os prazos para filiação e desincompatibilização, os caciques políticos encerram a parte mais trabalhosa de uma eleição, a formação da base das listas proporcionais. Fora uma surpresa ou outra, como a migração de Igor Kannário para a base aliada de Jerônimo Rodrigues, não dá pra dizer que essa reta final fugiu do esperado. As legendas cumpriram seus papeis para atrair potenciais candidatos a vereador - e também a prefeito - sem grandes traumas, na maioria dos casos.
Talvez o episódio mais tenso desse período tenha sido a filiação da vereadora Débora Régis, de Lauro de Freitas, ao União Brasil. Um dos principais ativos do PDT para a disputa em 2024, Débora emigrou para um partido tido como aliado e gerou uma celeuma que ficou explícita ao longo da semana, com as farpas desferidas pelo presidente estadual do PDT, Félix Mendonça Jr. A crise só não toma proporções maiores porque há forte tendência de reedição da dobradinha Bruno Reis (União) e Ana Paula Matos (PDT) em Salvador e os pedetistas não são suicidas políticos. O que não quer dizer que os pré-acordos para 2026 sejam mantidos, especialmente com as investidas que a base governista estadual vai fazer pelo partido.
Nas câmaras de vereadores de toda a Bahia, o que se viu foi uma rearrumação de forças para aquilo que os candidatos a vereador tem como foco: garantir a reeleição. Na capital, esse desenho coube ao prefeito Bruno Reis e ao secretário de Governo, Cacá Leão (PP), que tiveram que encontrar espaços e números na ponta do lápis para atender a base atual ao mesmo tempo em que permite a chegada de potenciais novos nomes. Não é uma conta fácil de fazer, mas é algo rotineiro para todos os envolvidos. O mesmo é válido para o MDB, com o arranjo sob a perspectiva de que a candidatura majoritária de Geraldo Jr. gere dividendos para a proporcional. E até mesmo a esquerda, que investe no voto identitário para evitar ficar cada vez menor na Câmara de Salvador.
Entre as desincompatibilizações, também não houve muita surpresa. Talvez o endosso à candidatura da ex-secretária de Educação, Adélia Pinheiro, em Ilhéus, seja a aposta mais arriscada, visto que o prefeito Marão (PSD) preferiu outro nome ao invés de centralizar forças no nome que Jerônimo Rodrigues tenha dado indícios que apoiaria. Como disputas na base aliada serão comuns - mesmo pelo robustez do número de partidos -, Ilhéus seja apenas um exemplo de que nem sempre é possível unificar interesses de tantos grupos políticos.
Com o encerramento desses prazos, agora as legendas passam a centrar esforços para tentar ampliar alianças nas candidaturas majoritárias. As listas de candidatos a vereador na mão servem de guia sobre quem tem o maior poder de barganha, tanto quanto outros critérios. Apesar da maioria da população acreditar que a eleição se resume ao ato de ir votar, a caminhada até aquele momento inclui essas etapas preliminares e que parecem interessar mais aos partidos do que à sociedade. Não deixa de ser um processo de alienação, mas isso são outros pontos sensíveis da arena pública e que ainda não estamos efetivamente debatendo.