A ex-prefeita Marta Suplicy recebeu para almoço neste sábado (13) o pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL), de quem deverá ser vice, após uma articulação do presidente Lula (PT) para que ela deixasse a gestão Ricardo Nunes (MDB) e voltasse ao PT depois de nove anos.
Após duas horas e meia do primeiro encontro entre eles, Marta e Boulos apareceram na sacada, acenaram e deram as mãos.
Em entrevista do candidato do PSOL e em nota divulgada pela ex-prefeita depois do almoço, os dois exaltaram a importância de uma frente ampla, com recados contra o bolsonarismo. Para a oficialização da chapa, aguardaram agora as aprovações internas no PT.
Boulos chegou à residência de Marta por volta das 13h50, no banco dianteiro de passageiro de seu Celta prata —exaltado pela propaganda do candidato na eleição de 2020 a fim de mostrar ter um patrimônio inferior ao dos principais adversários.
A ex-prefeita e o marido, o empresário Márcio Toledo, que atua como seu articulador político, organizaram o encontro no apartamento deles, nos Jardins, região nobre da capital, e foram recebê-lo na entrada do prédio. O candidato do PSOL compareceu com a esposa, Natalia Szermeta, que também atua no partido e no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto).
Ao final do encontro, Boulos disse que conversou com Marta sobre os desafios da cidade de São Paulo — entre eles destacou o de derrotar o bolsonarismo e reeditar uma frente democrática.
"É uma aliança que está se construindo e não vai olhar para o passado, mas para o compromisso de presente e futuro", disse Boulos. Segundo ele, as definições sobre a chapa serão feitas pelo diretório municipal do PT.
"A Marta agrega profundamente para o projeto que nós estamos construindo na cidade de São Paulo. A Marta agrega experiência administrativa, uma amplitude, essa ideia de uma frente democrática na cidade, que aliás foi a razão da ruptura dela com o governo atual do Ricardo Nunes."
O deputado disse que Marta não impôs condições para compor a chapa e que a conversa entre eles foi "extremamente amistosa, de troca de percepções sobre a cidade de São Paulo".
Boulos disse ter recebido conselhos para as agendas internacionais que ele terá nos próximos dias com a prefeita de Paris, França, e na China e fez um convite prontamente aceito por ela.
"Ela está muito animada para organizar e fazer campanha. Uma vez feito o processo de filiação e as confirmações que precisam ser feitas pelo Partido dos Trabalhadores, eu vou levá-la para um encontro com os movimentos sociais da cidade de São Paulo para que tenha essa reconexão da Marta."
Ainda nesta sábado, Boulos se encontrará também com o deputado Eduardo Suplicy, ex-marido de Marta e que defendeu prévias no PT para a escolha do vice na chapa.
Em nota, a ex-prefeita afirmou se sentir "muito honrada" com a presença de Boulos e de esposa e disse resgatar o "Manifesto Frente Ampla", lançado também em sua residência. "É a expressão do que esta reunião representa", afirmou.
O manifesto citado por Marta diz que ser a hora "de nos unirmos para construirmos a mais ampla frente política e social para o progresso e o desenvolvimento da cidade", "convocar a todos para o esforço de uma grande mobilização pela democracia", "a favor do progresso, desenvolvimento e respeito pela diversidade" e "reafirmar nossa índole democrática, pluralista e igualitária".
O apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nunes é citado por aliados de Marta como estopim para a saída dela da gestão do atual prefeito, para quem "a desculpa não cola".
A aliança Boulos-Marta é inspirada no arranjo que levou o então adversário histórico Geraldo Alckmin (PSB) a ser vice de Lula na eleição de 2022, em uma estratégia para sinalizar pacificação e construir a imagem de frente ampla que venceria Bolsonaro.
O almoço foi marcado para aproximar Marta e Boulos, que estiveram em lados opostos nos últimos anos. Após se filiar ao MDB, em 2015, ela votou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT). Em 2020, já sem filiação partidária, apoiou Bruno Covas (PSDB), que derrotou o psolista no segundo turno na capital.
Símbolo do pragmatismo de Lula e da esquerda na eleição em São Paulo, a chapa Boulos-Marta é vista como um trunfo para evitar a vitória de um aliado de Bolsonaro —o ex-presidente é considerado por Nunes como apoiador de sua reeleição. Marta, à época no PT, administrou a cidade entre 2001 e 2004.
Para o almoço deste sábado também foi convidado o deputado federal Rui Falcão (SP), que é ex-presidente do PT, mantém interlocução com a ex-prefeita e foi incumbido por Lula de ajudar nas costuras.
A previsão é que a filiação ocorra nas próximas semanas, com uma festividade que deve contar com o próprio Lula. Apesar de estar em São Paulo desde esta sexta-feira (12), o presidente não participou do almoço na casa de Marta —ele esteve no Hospital Sírio-Libanês para exames de rotina.
Marta deixou a gestão Nunes, onde era secretária municipal de Relações Internacionais, na última terça-feira (9), um dia após ela se encontrar com o petista no Palácio do Planalto e aceitar o convite para retornar à legenda em que estreou na vida política e militou por 33 anos.
Aliados do prefeito tentam colar na ex-auxiliar a pecha de traidora e minimizam publicamente a perda, apesar do incômodo.
Sob resistências internas à repatriação, o PT caminha para receber de volta a ex-prefeita na sigla, sob o argumento de que ela fortalecerá a chapa com o PSOL. A passagem dela pela prefeitura é exaltada por legados como os CEUs e o Bilhete Único, mas também acumulou desgastes.
É a primeira vez que o PT abre mão de candidatura própria na capital. Pelo acordo com o PSOL, a indicação de vice caberá aos petistas. Lula está empenhado na campanha de Boulos, realizou ato do governo federal na cidade com o aliado e determinou esforço concentrado para impulsioná-lo.
A ideia de convidar Marta para voltar à legenda e ser vice foi revelada pela Folha em novembro.
A ex-prefeita, apesar de ter se distanciado do PT e criticado membros como Fernando Haddad —que chegou a chamar de pior prefeito da história de São Paulo—, nunca rompeu com Lula.
Foi no apartamento dela que aconteceu, em 2021, uma das primeiras reuniões em que se aventou a possibilidade de Alckmin ser vice de Lula. O local foi palco de uma série de encontros políticos nos últimos anos. Lá Simone Tebet (MDB) fechou o apoio ao petista no segundo turno de 2022.
Após o compromisso deste sábado, Boulos tem viagem programada para a China e a França, em continuidade à agenda internacional da pré-campanha. Ao longo de 2023, ele visitou metrópoles em diferentes países para conhecer projetos e experiências que possam ser replicados em São Paulo.